I Guerra Mundial

SIGNIFICADO DA GUERRA: CRISE E DECADÊNCIA DO ABSOLUTISMO

Documento I

Naquela manhã de maio de 1910, quando nove reis montados a cavalo se incorporaram no funeral de Eduardo VII da Inglaterra, o espetáculo era tão magnificente que a multidão enlutada e em profundo silêncio não pode reter exclamações de admiração. Em trajes escarlate, verde, azul e púrpura, os soberanos cruzaram os portões do palácio em filas de três, fazendo luzir ao sol plumas, galões dourados, bandas carmesins e condecorações incrustadas de pedrarias. Atrás seguiam cinco herdeiros presuntivos, mais quarente altezas imperiais e reais, sete rainhas - quatro viúvas e três reinantes - e grande número de embaixadores extraordinários de países não-monárquicos. Representavam em conjunto setenta nações, na maior concentração de realeza e categoria jamais reunidas num só lugar e que na sua espécie seria a última. O "Big-Ben" bateu nove horas quando o cortejo saiu do palácio, mas no relógio da História era ocaso: o sol do velho mundo punha-se em agonizante esplendor.

TUCHMAN, Bárbara W., Os canhões de Agosto. RJ: Editorial Bruguera, p.9.

Documento II

“A Grande Guerra Mundial de 1939 a 1945 estava umbilicalmente ligada à Grande Guerra de 1914–1918. [...] Estes dois conflitos constituíram nada menos que a Guerra dos Trinta Anos da crise geral do século XX. [...] A Grande Guerra de 1914, ou a fase primeira e protogênica dessa crise geral, foi uma conseqüência da remobilização contemporânea dos anciens regimes da Europa. Embora perdendo terreno para as forças do capitalismo industrial, as forças da antiga ordem ainda estavam suficientemente dispostas e poderosas para resistir e retardar o curso da história, se necessário recorrendo à violência. [...] Após 1918–1919 as forças da permanência se recobraram o suficiente para agravar a crise geral da Europa, promover o fascismo e contribuir para a retomada da guerra total em 1939.”
(MAYER, Arno. A força da tradição: a persistência do Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 13–14.) - Citação utilizada em prova da UFPR.

JUSTIFICATIVAS IDEOLÓGICAS DA GUERRA

Documento I

" Os animais lutam, mas não fazem guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões. A guerra é uma de suas invenções mais importantes; a capacidade de estabelecer acordos de paz é provavelmente uma conquista posterior. As mais antigas tradições da humanidade, seus mitos e lendas heróicas, falam sobretudo da morte e do ato de matar."

(ENZENSBERGER, Hans Magnus. Guerra Civil.) Escritor alemão nascido em 1929.

Documento II

O contrário da vasta maioria dos meus compatriotas, mesmo neste momento, em nome da humanidade e da civilização, eu protesto contra nossa parcela na destruição da Alemanha. Há um mês, a Europa era uma comunidade pacífica de nações; se um inglês matasse um alemão, ele era enforcado. Agora, se um inglês mata um alemão, ou se um alemão mata um inglês, ele é um patriota, que honrou seu país.

Nós vasculhamos os jornais com olhos famintos por notícias de massacres, e nos saciamos quando lemos que jovens obedientes, cegamente obedientes à palavra de comando, são eliminados aos milhares pelas metralhadoras em Liège. Aqueles que viram as multidões de Londres durante as noites que antecederam a declaração de guerra viram uma população inteira, antes pacata e humana, empurradas em questão de dias na ladeira íngreme do barbarismo primitivo, extravasando, de súbito, os instintos de ódio e sede por sangue contra os quais toda a trama da sociedade foi tecida.


"Nós vasculhamos os jornais com olhos famintos por notícias de massacres"

"Patriotas" em todos os países celebram esta orgia brutal como a nobre determinação de vingar seus direitos; a razão e a piedade são varridas por uma grande avalanche de ódio; abstrações da maldade – dos alemães sobre nós e os franceses; dos russos sobre os alemães – escondem o simples fato de que os inimigos são homens, homens como nós, nem melhores nem piores – homens que amam suas casas e a luz do sol, e todos os simples prazeres da vida comum; homens agora enlouquecidos pelo terror da imagem de suas mulheres, irmãs e filhas expostas, com nossa ajuda, à piedade dos conquistadores cossacos. E toda essa loucura e fúria e morte flamejante de nossa civilização e nossas esperanças foi provocada porque os políticos, quase todos estúpidos e todos sem imaginação ou coração, escolheram que ela ocorresse ao invés de sofrerem um mínimo arranhão ao orgulho do país.

É impossível não concluir que o governo da Grã-Bretanha fracassou em seu compromisso com a nação ao não revelar seus antigos acordos com a França e, de última hora, revelar esses acordos e usá-los como base para um apelo à honra. Impossível não concluir que o governo fracassou em seu compromisso com a Europa, ao não declarar a posição logo no começo da crise, e que fracassou em seu compromisso com a humanidade ao não informar a Alemanha das condições que garantiriam sua não-participação numa guerra que, qualquer que seja seu desfecho, provocará indizível sofrimento e a perda de muitos milhares de nossos mais nobres e corajosos cidadãos.

Bertrand Russell, filósofo, historiador, pacifista e matemático. Recusou a se alistar na I Guerra Mundial.

Documento III

“A Guerra é uma necessidade biológica, é por em prática na humanidade a lei natural sobre que se apóiam todas as leis da natureza, a lei da luta pela vida. As nações devem progredir ou desaparecer, não pode haver meio termo e a Alemanha tem de escolher entre ser potência mundial ou perecer. Entre as nações, a Alemanha está, nos aspectos político-sociais, à cabeça de todo progresso social, mas se acha comprimida em limites estreitos e antinaturais. Não poderá atingir seus grandes fins morais sem aumentar o poder político e conseguir o alargamento de sua esfera de influência a novos territórios. Esse aumento de poder, de acordo com a nossa importância e eu temos autoridade para exigir, é uma necessidade política e o primeiro e mais importante do Estado. Devemos combater por aquilo que agora desejamos alcançar. Deste modo, a conquista torna-se uma lei de necessidade”.
General von Bernhardi. A Alemanha e a próxima guerra (1910). In: TUCHMAN, Bárbara W. Os Canhões de Agosto. Rio de Janeiro:Editorial Bruguera, 1962, p.19.


Documento IV

 “A guerra é inevitável, e quanto mais cedo, melhor!”

General Von Moltke, chefe do estado Maior Alemão

Documento V



Cartaz de uma revista nacionalista francesa que prega “a revanche”

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