Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso
Igreja Centenária - Foto: Ale Hopfer |
Nessa parte da capitania de Santo Amaro, estava incluído o atual território paranaense.
Morto Pero Lopes de Souza, as contínuas sucessões fizeram com que a donatária fosse ter às mãos de Lobo de Souza, o que deu origem, então, à famosa questão judicial Vimieiro-Monsanto, pela posse dos direitos que D. Luiz de Castro, segundo conde de Monsanto, também neto de Martim Afonso, pretendia ter
à capitania de Santo Amaro por progenitura, sendo mais velho que o primo, Lobo de Souza. Morto este, sem deixar herdeiros, a sucessão das capitanias coube à sua irmã, D. Mariana de Souza Guerra, condessa de Vimieiro, que também faleceu no correr da demanda. Sucederam-lhe o filho, D. Sancho de Faro e Souza, e o neto, D. Diogo, ambos condes de Vimieiro. Este último não deixando descendentes, legou
à sua irmã, D. Mariana de Faro e Souza, condessa da ilha do Príncipe, todo o peso da herança e também o do litígio. A questão só teve fim quando, já falecidos o segundo conde de Monsanto e seu filho e sucessor, D. Álvaro Paes de Castro, assumiu a chefia da casa o neto em linhagem direta D. Luiz Alvares de Castro, conde de Monsanto e marquês de Cascaes. Foi vencedora do pleito a Casa de Monsanto.
Em virtude disso, delegaram-se poderes a Manoel Rodrigues de Moraes para tomar posse das terras outrora doadas a Pero Lopes de Souza. Novos embargos foram tentados; sem efeito, no entanto. Todavia, quando ainda corria acesa a disputa, em 1654, o capitão-mor de Itanhaém, Diogo Vaz Escobar, recebeu comissão do conde da Ilha do Príncipe para tomar posse de Paranaguá, que ficaria sob sua jurisdição. Na época, era capitãomor de Paranaguá Gabriel de Lara, por ele nomeado “capitão-mor”, que já o era,
na condição de povoador da vila desde 1640. Cuidou-se, também, de fundar outras povoações no litoral sul de Santo Amaro. Simão Dias de Moura, que substituíra a Diogo Vaz de Escobar, por motivo de seu falecimento, em 1656, em nome do conde da Ilha do Príncipe, instalou uma póvoa na embocadura do Rio Saí, local bastante impróprio e insalubre, motivo pelo qual não prosperou.
No ano de 1709 o marquês de Cascaes ajustou com a Coroa portuguesa a venda da propriedade à antiga donatária , que retornou ao patrimônio real e a sereger por lei comum, não mais pelas concessões registradas no Foral de Doação.
E enquanto tudo isto acontecia, a primitiva povoação do Saí vegetava no total abandono.
Em 1765, foi restabelecida a capitania de São Paulo, e para governá-la foi nomeado,em julho daquele ano, D. Luis Antônio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus, que seguindo instruções expressas do marquês de Pombal, temeroso das
intenções espanholas no Sul do Brasil, de imediato tratou de estabelecer novas povoações
em regiões do litoral e do sertão.
Dois anos depois, seu primo e ajudante de ordens, o tenente-coronel Afonso Botelho Sampaio e Souza, foi mandado à vila de Paranaguá, com dupla incumbência: construir uma fortaleza, em ponto localizado na barra de sua imensa baía, e erguer povoação em Guaratuba, na faixa litorânea abaixo de Paranaguá, que também se situava nas antigas terras de Sant’Ana, então em completo abandono.
Escolheu-se para local do novo povoado, sítio a meia légua da barra, na margem esquerda e meridional da grande baía a que os Carijós denominavam Guaratuba (lugar de muitas aves, os guarás, de pernas vermelhas), justamente em angra que tinha à sua frente uma ilha rasa, a do Capim.
A baía, que os antigos navegantes apelidavam de “rio alagado”, aproximadamente de forma elítica, comunica-se com o Atlântico através de estreito canal, o da Barra Sul, e é rodeada de altas elevações, coberta de espessa vegetação — Prata, Agudinho, Araraquara, Batatal, Bico, Torto e Cubatão , que fazem parte da Serra do Mar. Nela deságuam os rios Cubatão, Cubatãozinho, São João e Descoberto, que em
seu curso despencam em belos saltos e cachoeiras e aí se disseminam inúmeras ilhas e ilhotas, muitas delas pantanosas e cobertas de mangues — Pescaria, Graças, Baixo Grande, Capim do Meio, Capim de Cima, Capim de Baixo, do Rato e dos Papagaios — e bancos de areia, que dificultam a navegação.
Para lá se transferiram todos quantos ainda residiam na pobre e precária povoação que já datava de mais de século, à foz do Rio Saí, cinco léguas ao sul, e chamada de Nossa Senhora do Bom Socorro, confundida, por Ayres de Casal e Pizarro de Araújo, como sendo Guaratuba. Essa nova e privilegiada situação — sobre
a extinta de terra que separa a baía do alto-mar —, foi, de certa maneira, fruto do relatório feito pelo sargento-mor Manoel Gonçalves de Aguiar, que lá esteve em 1714, ao então governador da capitania de São Paulo, Francisco de Távora. O local já era, na época, habitado por alguns brancos e índios catequizados, que viviam da pesca, da caça e de incipiente atividade agrícola de sustento.
Em 27 de abril de 1771 o tenente-coronel Afonso Botelho Sampaio de Souza elegeu solenemente a vila nova de São Luís de Guaratuba, como sede do novo termo desmembrado do de Paranaguá. No dia seguinte foi benta a igreja matriz e nela celebrada a primeira missa, pelo padre Bento Gonçalves Cordeiro.
Quando, em 1820, por lá passou Auguste de Saint-Hilaire, a paisagem ainda conservava a majestade e a intacta tranqüilidade só encontradas nas regiões desér-ticas. “A Vila” - disse ele então - “não se compõe de mais de quarenta casas, sendo que quinze delas formam um semicírculo à beira d’água. As outras se localizam mais atrás, à volta de extensa praça coberta de relva, na extremidade da qual fica a Igreja
Matriz.
A Igreja matriz tinha, por orago, Nossa Senhora do Bonsucesso; e a vila, por patrono, São Luís. De linhas coloniais muito simples, esse templo foi edificado em alvenaria de pedra argamassada e atualmente divide-se em quatro corpos: nave, capela-mor, sineira e sacristia. Enquadrada por cunhais, arrematados por coruchéus, ambos em cantaria, a fachada principal é rasgada por portada e duas janelas à altura
do coro. Todos os requadros da fachada são também em cantaria, vergas e sobrevergas arqueadas. O frontão é movimentado por graciosas curvas e contracurvas e vazado por óculo polilobulado. Encima-o cruz também lavrada em cantaria.
Diferentemente do partido quase sempre adotado na região, a torre sineira, obra do século XIX, se fixa recuada, diante da sacristia, à qual dá acesso através de porta emoldurada por requadro em cantaria, com verga e sobreverga arqueadas.
(Aquarela de Debret, feita em 1827, mostra a matriz ainda sem a atual sineira, o que comprova sua posterior edificação).
O interior da igreja é bastante simples, com piso de tabuado e a nave, em abóbada de berço, tem forro de tábuas corridas, arrematado por cimalha.
Fonte: Espirais do tempo : bens tombados do Paraná / Cyro Illídio Corrêa de Oliveira Lyra
textos ; Rosina Coeli Alice Parchen, José La Pastina Filho consultoria de dados históricos,
revisão final ; Larissa Aparecida Brotto traducão e revisão, espanhol. - Curitiba
: Secretaria de Estado da Cultura, 2006.