Independência ou Morte, Pedro Américo, 1888
Todos têm o imaginário cívico do quadro de Pedro Américo: Às margens de um riacho, um jovem príncipe, o futuro D. Pedro I, em trajes de gala montado em um garboso alazão desembainha a espada e brada contra Portugal: “A partir de hoje, nossa divisa será: Independência ou Morte!”. Mas aquele Sete de setembro de 1822 foi bem diferente da imponente versão romântica do pintor. Na verdade, aquele episódio só mereceu uma menção no jornal duas semanas depois. Pedro I trajava uma roupa simples, adequada àquela viagem entre Rio de Janeiro e Santos onde visitara a amante. Também não era acompanhado pelos bravos cavaleiros conhecidos como “Dragões da Independência”, e sim, por uma comitiva simples de políticos.
Dito assim, a imagem do belo quadro de Pedro Américo é um retrato romântico de um século preocupado em construir uma nacionalidade. Mas a grande falsificação desse evento histórico é outra. A história tradicional contou esse episódio como um feito coletivo e democrático, como se Pedro encarnasse o ideal de todo um povo.
Então se a história não foi assim, como foi então?
Pedro I - advertido pelo pai, o Rei D. João VI – deveria separar o Brasil para preservar a família real como dirigentes. Em carta a Pedro I, o Rei de Portugal deixou clara a sua intensão: “Se for para o Brasil separar-se de Portugal, que seja para ti, que me há de respeitar, que para um desses aventureiros”. Por outro lado, a elite financeira portuguesa, comerciantes, banqueiros, burgueses em geral, tinham uma ideia bem diferente para o Brasil. Esses grupos pretendiam aumentar impostos, intermediar importações e estabelecer monopólios. Assim, grupos econômicos brasileiros que teriam seus negócios prejudicados pelas restrições portuguesas começaram a se agitar e a ideia de separação política era presente. Contudo, as ordens portuguesas de controle tinham um obstáculo, o Príncipe Pedro, que impediu a aplicação de leis e proibiu desembarques portugueses. Assim, a aliança entre Pedro I e esses grupos econômicos foi natural e seu maior símbolo foi o abaixo assinado daquele 9 de janeiro de 1822, o “Dia do Fico”. As pressões aumentaram durante aquele ano e levaram ao rompimento formal só em setembro e, em dezembro, Pedro I foi coroado.
Contudo, ainda falta destacar um evento um tanto desconhecido dessa história: Pedro I estando em viagem,deixou o Conselho de Estado alerta pela sua ausência, e a esposa de Pedro I, a Princesa Leopoldina, assinou a declaração de Independência alguns dias antes do 7 de Setembro. Embora, um evento tãoimportante, a Princesa não ganhou menções nos livros de história, contribuindo para uma memória nacional que deixou a ação das mulheres nas sombras, mas que nos últimos anos está emergindo e ganhando espaço.