HISTÓRIA DO PARANÁ
O Brasil ainda não sabe geografia, anotava o ex-governador do Paraná Bento Munhoz da Rocha Netto, em meados do século 20. Ou se conhece profundamente a terra - em contornos, tipos de solo, acidentes, altitudes, climas - ou cai por terra o “em nela se plantando, tudo dá”, com que Pero Vaz de Caminha tentou impressionar o rei de Portugal, em 1500.
Seja qual for o estágio civilizatório, a equação que se apresenta a todo governante é sempre a mesma: espaço territorial x assentamentos humanos.
O sucesso do produto é diretamente proporcional ao índice de qualidade de vida das pessoas que habitam o território.
É assim que se tem pensado o Paraná nos últimos anos. O planejamento é a ferramenta para executar as interferências necessárias à vida melhor.
O mapa do Paraná contemporâneo tem formato horizontal. Ao Norte está São Paulo, a Leste o Oceano Atlântico, ao Sul Santa Catarina e a Oeste estão o Mato Grosso e o Paraguai, pela fronteira líquida do rio Paraná cujas águas se encontram, a Sudoeste, com as do rio Iguaçu, que se estende demarcando a Argentina e o Uruguai.
Tupi é a origem de Paraná, que quer dizer “rio” na linguagem dos ameríndios ocupantes do quadrilátero fluvial Paraná-Paranapanema-Tibagi-Iguaçu. O primeiro europeu a percorrer a região teria sido o bandeirante Aleixo Garcia. Mas a posse simbólica do rio Paraná para a Espanha se deu com Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, no roteiro entre Santa Catarina e Assunção, no Paraguai, em 1541.
Em 1554 nasceu a vila de Ontiveros, primeira povoação européia (espanhola) no hoje território paranaense, às margens do rio Paraná, perto da foz do rio Ivaí. Dois anos depois o povoamento, transferido para perto da foz do rio Piquiri, receberia o nome de Ciudad Real de Guairá, que, junto com Vila Rica do Espírito Santo – nas margens do Ivaí – formou a Província de Vera ou do Guairá. A tentativa espanhola de escravizar os índios provocou levantes e a pacificação foi confiada aos padres Jesuítas, que adotaram o sistema de reduções.
O primeiro proprietário português de terras paranaenses foi o bandeirante Diogo de Unhate, que em 1614 requereu e obteve uma sesmaria na região de Paranaguá, entre os rios Ararapira e Superagüi. Secundou-o, em 1617, a bandeira de Antônio Pedroso, da qual fazia parte o jovem Gabriel de Lara, filho de espanhol, interessado em faiscar ouro. Com a família espanhola pioneira Peneda, Lara fundou uma povoação na ilha de Cotinga, que depois transferiu para a margem esquerda do Taquaré (hoje Itiberê). O pelourinho foi erguido em 6 de janeiro de 1646 e a criação da Câmara e das Justiças aconteceu com a eleição de 29 de junho de 1648.
De Guaíra e Paranaguá ao conjunto de 399 municípios do Paraná atual, o “rio” seguiu seu curso pelo leito imemorial, criando fronteiras líquidas, encontrando-se com a “água grande” do Iguaçu e se cruzando ou correndo paralelo ao Paranapanema, ao Ivaí, ao Piquiri, a tantas e tantas águas que banham o território e lhe dão vida. As Sete Quedas de Guaíra repousam sob o imenso lago de Itaipu, formado pelo reservatório da maior usina hidrelétrica do mundo. Lindeiros ao mar fluvial e até a Foz do Iguaçu - onde a água se despenca nas cataratas, uma das mais belas paisagens naturais do mundo - estão 1,3 mil quilômetros distribuídos entre 15 municípios, formando a Costa Oeste do Paraná.
É o Estado moderno, cuja capital, Curitiba, seguiu-se a Paranaguá, ganhando importância à medida que avançavam os tropeiros desde o século 17, conduzindo gado entre Viamão (RS) e a Feira de Sorocaba (SP). As longas invernadas nos “campos de Curitiba” - os Campos Gerais - acabavam conduzindo os proprietários de fazendas para transações comerciais na hoje capital do Paraná, geopoliticamente bem situada. O século 19, marcado em sua segunda metade pela imigração européia em massa, ajudou a moldar o Paraná de hoje, acrescentando tradições européias, especialmente germânicas, eslavas e italianas, aos costumes ibéricos dos primeiros colonizadores.
Se o século 19 foi extrativista – não mais de ouro e minerais, como no início da colonização, mas de erva-mate e madeira – também trouxe a vastíssima contribuição européia, principalmente a classe média capaz de poupar e de investir. E a necessidade de caminhos mais permanentes que as picadas do início, para escoamento da produção agrícola e integração entre Interior e Litoral. A Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba foi um marco da engenharia nacional, executado em grande parte pela força e a coragem do braço imigrante.
Este século 20, das maiores transformações a que a humanidade já assistiu, foi marcado no Paraná pela opulência das moradas e do viver dos “barões da erva-mate”, donos de engenhos; pela madeira farta que atraiu os ingleses e povoou os vazios das florestas derrubadas. O Paraná deste século assistiu à chegada dos imigrantes não-europeus, como os japoneses da segunda década, a povoar o Norte e a inserir culturas e técnicas agrícolas até então desconhecidas; dos aventureiros, muitos deles brasileiros de outras regiões – muitos mineiros, por exemplo – que fizeram o Norte Novo à sombra da monocultura dos cafezais; da terra roxa devastada por queimadas do sol inclemente no início dos anos 1960 e do apodrecimento das raízes dos cafeeiros, na geada negra de 1975; da soja e do trigo alargando fronteiras agrícolas, ganhando o Oeste e o Sudoeste, construindo um modelo exportador mas também substituindo por máquinas os humanos braços das lavouras.
Um Paraná contemporâneo que não podia mais atrasar a implantação de seu parque industrial. O Estado das usinas hidrelétricas, a iluminar os rincões distantes do próprio território e a fornecer energia para boa parte do Brasil. O Paraná da indústria alcooleira, do xisto, do carvão. Uma terra paisagem onde o retrato é dinâmico, muda todo dia porque é feito de gente de toda origem, de todo talento.
Este Paraná “rio”, mar, praia, lago, cachoeira, catarata, montanha, planalto, campo, ilha... este território é o cenário que aparece sob o papel vegetal, com uma geografia puxada pela história e um futuro reescrito a cada dia.
Entre o olfato apuradíssimo, o chá de mate e o chimarrão quente, o costume do banho diário e a rede para descansar - elementos herdados dos índios - e a oportunidade vista na indústria que se instala, agregando valor aos produtos do trabalho, a água do rio correu por quase cinco séculos.
Um tempo moldado pela ciência e pela paciência, nas tramas que juntam o homem e o território, em harmonia. Harmonia retratada no morador da ilha que vê televisão e toma banho quente, sonho realizado com a chegada da energia solar.
Energia solar que ilumina também as salas de aula à noite, permitindo aos ilhéus aprender a ler e escrever e conhecer um mundo bem maior que terrinha cercada de água por todos os lados.
Harmonia que chega a todas as comunidades com a rede de esgoto e a água encanada. Ou com as crianças que trocaram a rua pelos bancos da escola. No campo, o agricultor comemora "a casa para morar e a terra pra plantar”. Na cidade, o trabalhador comemora a casa própria que tem a cara dele. É gente feliz, que faz o retrato do Paraná paisagem.
Felicidade estampada na carteira assinada e no sorriso dos pais que, graças às UTI neonatais, embalam seus bebês que nasceram em situação de risco mas cresceram saudáveis.
Gente que é símbolo do Paraná moderno, que prepara a infra-estrutura do futuro investindo na sua gente. Um Paraná que tem governo, sim senhor, para garantir a vida e a saúde, o acesso à creche, à educação, à casa para morar e ao terreno para plantar, à água limpa que sai da torneira e ao esgoto canalizado e tratado, à luz elétrica ou solar, à baía limpa e à comprovação diária de que é possível aliar desenvolvimento com preservação.
Este Paraná existe porque conhece sua geografia. A história é a maior prova.
História, Povoamento e Colonização
A história do Paraná e do povo paranaense pode ser contada através dos vários ciclos pelos quais passou: ouro, madeira, erva-mate e café.
Inicialmente as terras paranaenses pertenciam à Capitania de São Vicente; eram percorridas esporadicamente, durante o século XVI, por europeus exploradores da madeira de lei existente na região. A partir do século XVII teve início a colonização, sendo fundada a Vila de Paranaguá em 1660.
Colonos e jesuítas espanhóis povoaram Paranaguá e Curitiba nos primeiros tempos. Com a descoberta de ouro, portugueses foram atraídos para a localidade, tanto no litoral como no interior. A posterior descoberta de ouro nas Minas Gerais amenizou a exploração paranaense.
A passagem de tropas (gado e cavalos) vindos de Viamão para Sorocaba propriciaram o tropeirismo no Estado. Paradas feitas durante o percurso para pouso originavam novos povoamentos que, com o passar dos tempos tornaram-se cidades (Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, Porto Amazonas, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengés).
Separada de São Paulo em 1853, criou-se a Província do Paraná com o estabelecimento de aproximadamente 40 núcleos coloniais, núcleos estes originados por imigrantes italianos, alemães, poloneses, franceses, ingleses e suíços que, dedicaram-se as culturas de erva-mate, café e exploração de madeira impulsionando a economia local na época.
Paraná em guarani quer dizer “rio caudaloso”. As primeiras movimentações de colonizadores no estado do Paraná tiveram início no século XVI, quando diversas expedições estrangeiras percorreram a região à procura de madeira de lei. No século XVII, portugueses e paulistas começaram a ocupar a região, a partir da descoberta de ouro e à procura de índios para o trabalho escravo. A mineração, no entanto, foi legada a segundo plano pelos colonizadores, que se dirigiram em maior número às terras de Minas Gerais. Até o século XVIII, existiam apenas duas vilas na região: Curitiba e Paranaguá. Esse processo retardou a ocupação definitiva da área, que pertenceu à província de São Paulo até meados do século XIX, com sua economia baseada na pecuária.
A história oficial do Paraná começa em 29 de agosto de 1853 com a lei assinada pelo Imperador Dom Pedro II, que desmembrou a região da Província de São Paulo. Logo após de conquistada sua autonomia, teve início um programa oficial de imigração européia para a região, principalmente de poloneses, alemães e italianos que vieram em busca de riquezas. O progresso, elevação de nível econômico, cultural e social do povo do Paraná foram os principais motivos para a transformação da região em província.
Em 1880 houve a abertura de estradas e rodovias, o que acelerou a ocupação. Daí em diante aconteceu o grande fluxo de migrantes mineiros e de outros estados pelo baixo valor das terras e sua grande fertilidade. O Paraná, se torna Estado em 1889.
No século XX a história do Paraná foi marcada pela opulência das moradas e do viver dos “barões da erva-mate”, donos de engenhos. A madeira farta atraía os ingleses, que povoaram os vazios das florestas derrubadas. Neste mesmo século chegaram os imigrantes não-europeus, como os japoneses na segunda década. O Paraná viveu o ciclo do ouro, da madeira, da erva-mate e do café, até finalmente diversificar sua economia.
O Estado é conhecido como o maior e mais ativo celeiro do País. Seu parque industrial não pára de crescer e diversificar-se. O aproveitamento do extraordinário potencial energético de uma privilegiada bacia hidrográfica, formada principalmente pelos rios Paraná e Iguaçu, é um dos responsáveis por este grande crescimento. Os últimos anos foram marcados por grandes transformações e pela sua consolidação como um dos mais importantes estados brasileiros, ocupando o seu lugar em importância econômica.
A capital, Curitiba, foi fundada em 1693, como Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Curitiba se tornou a capital do Estado em 1853. A ocupação do seu território foi lenta até 1870, quando foi iniciado o processo de colonização por imigrantes europeus. Os imigrantes se estabeleceram nos arredores da cidade, se dedicando a atividades agrícolas e artesanais. Além desses grupos majoritários, também vieram para a região imigrantes japoneses, franceses, ingleses e suíços. A cidade de Curitiba tem sido modelo de planejamento urbano e qualidade de vida para seus habitantes.
(Fontes: IBGE / Governo do Estado do Paraná / República Federativa do Brasil / Almanaque Paraná 2002)
História do Paraná
19:25
Ricardo Capivara Toniolo